quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Qual é a dos orgânicos...



A agricultura que dispensa agrotóxicos e fertilizantes é a que mais cresce no mundo. Mas esses alimentos realmente fazem bem para você e para o meio ambiente?
Ana Gonzaga, com edição de Alexandre Versignassi

"A batalha para alimentar a humanidade acabou. Centenas de milhões vão morrer nas próximas décadas, apesar de todos os programas contra a fome", escreveu o biólogo americano Paul Ehrlich em seu best seller A Bomba Populacional, de 1968. Não era à toa. O número de pessoas no mundo chegava a assustadores 3,5 bilhões, e, de fato, não existia terra suficiente para alimentar esse povo todo.

Mas Ehrlich, você sabe, errou. Ele não acreditava que um daqueles programas contra a fome daria certo do jeito que deu. Era a Revolução Verde, um movimento que começou nos anos 40. O revolucionário ali foi bombar a agricultura com duas novidades. A primeira foram os fertilizantes de laboratório. Criados no começo do século 20, esses compostos químicos funcionam como um esteróide para as plantas, turbinando o crescimento delas com 3 nutrientes fundamentais: nitrogênio, potássio e fósforo. A segunda novidade eram os pesticidas e herbicidas químicos, capazes de destruir insetos, fungos e outros inimigos das lavouras com uma eficiência inédita.

E o resultado não poderia ter sido melhor: com essa dupla no front, a produtividade das lavouras cresceu exponencialmente. Tanto que, hoje, dá para alimentar uma pessoa com o que cresce em 2 mil metros quadrados. Antes, eram necessários 20 mil.

A química salvou a humanidade da fome. Mas cobrou seu preço. Os restos de fertilizantes, por exemplo, tendem a escapar para rios e lagos próximos às plantações e virar comida para a vegetação aquática. Resultado: as algas se multiplicam a rodo e, quando finalmente morrem, sua decomposição consome o oxigênio da água. Os peixes acabam sufocados. Além disso, os fertilizantes aumentam a produção de óxido nitroso, um gás emitido pelo solo e que representa 5% das emissões relacionadas ao efeito estufa.

Com os pesticidas é pior ainda. Eles não são terríveis só contra os insetos que destroem lavouras, mas também contra borboletas, pássaros e outras formas de vida que não têm nada a ver com a história. A biodiversidade ao redor das fazendas fica minguada. Mais: quando os agricultores exageram na dose, sobram resíduos nos alimentos; toxinas que, segundo alguns estudos, podem causar câncer.

Diante disso, muitos consumidores partiram para uma alternativa: os alimentos orgânicos, que dão um chega pra lá nos pesticidas e fertilizantes químicos em nome de integrar a lavoura com a natureza.

Revista superinteressante - 2006.
Luiz Carlos Felix e Renato Bispo dos Santos

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